Netanyahu declarou-se inocente no primeiro dia de julgamento por corrupção

por Joana Raposo Santos - RTP
O primeiro-ministro já negou qualquer irregularidade e declarou-se inocente, considerando "absurdas" as acusações. Foto: Menahem Kahana - Pool via Reuters

O primeiro-ministro israelita apresentou-se esta manhã de terça-feira, pela primeira vez, num tribunal de Telavive no âmbito de um julgamento por corrupção. Afirmou que está a ser perseguido devido às suas políticas, nomeadamente por não defender um Estado palestiniano. Ao longo de cerca de quatro horas, Benjamin Netanyahu declarou-se inocente.

Por duas vezes durante o depoimento, o seu secretário militar entregou-lhe mensagens escritas, a primeira das quais exigiu um intervalo. De seguida, o líder sublinhou o facto de ter de desempenhar uma dupla função de primeiro-ministro.

"Esperei oito anos por este momento, para poder dizer a verdade", declarou o líder aos juízes. "Mas também sou um primeiro-ministro. Estou a conduzir o país numa guerra de sete frentes. E penso que as duas coisas podem ser feitas em paralelo".

Netanyahu, de 75 anos, é o primeiro chefe de Governo israelita a ser acusado criminalmente, decisão que ocorreu em 2019. Na semana passada, os juízes determinaram que deveria apresentar-se três vezes por semana em tribunal para testemunhar.

Antes de Netanyahu depor, o seu advogado, Amit Hadad, expôs aos juízes o que a defesa considera serem falhas fundamentais na investigação. Os procuradores "não estavam a investigar um crime, estavam a perseguir uma pessoa", vincou.

O julgamento contra Netanyahu decorre numa altura em que Israel está envolvido numa guerra em Gaza e enfrenta possíveis novas ameaças colocadas por tumultos regionais, incluindo na Síria.

Enquanto líder do partido de direita Likud, Benjamin Netanyahu aproveitou o julgamento para atacar os meios de comunicação israelitas por apresentarem uma "posição esquerdista", acusando os jornalistas de o terem perseguido durante anos por as suas políticas não estarem alinhadas com a defesa de um Estado palestiniano.

"Se eu quisesse uma boa cobertura noticiosa, tudo o que precisaria de ter feito era dar um sinal no sentido de uma solução de dois Estados. (...) Se me tivesse deslocado dois passos para a esquerda, teria sido saudado", criticou.
Acusações "absurdas"
Netanyahu foi acusado em três casos envolvendo presentes de amigos milionários e por alegadamente ter procurado obter favores de magnatas da comunicação social em troca de uma cobertura noticiosa favorável.

O primeiro-ministro já negou qualquer irregularidade e declarou-se inocente, considerando "absurdas" as acusações.

As acusações envolvem também fugas de informação confidencial para meios de comunicação social, pressões para manipular as atas das reuniões anteriores a 7 de outubro de 2023 e chantagem sobre funcionários e estratagemas legais para atrasar o processo judicial.

Durante o seu testemunho, ficou de pé em vez de se sentar no banco das testemunhas. Em longas respostas, apresentou-se como um acérrimo defensor da segurança de Israel, resistindo às pressões das potências internacionais e de uma comunicação social interna que considerou hostil.

Ao longo do julgamento, dezenas de manifestantes reuniram-se no exterior do tribunal. Alguns eram apoiantes do primeiro-ministro, enquanto outros eram críticos que exigiram que Netanyahu fizesse mais para negociar a libertação de cerca de 100 reféns ainda detidos pelo Hamas em Gaza.

c/ agências
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